segunda-feira, 11 de março de 2013

Em nova emissora, Carlos Lombardi adianta: sua próxima novela terá strippers, tráfico e jogo do bicho




  • Folhetim será ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1970 e começa a ser gravado em maio
    Autor diz que mudará um pouco o seu registro, mas garante que o humor terá espaço na história




    
Carlos Lombardi
Foto: Ana Branco


    Carlos Lombardi
    RIO - Tipo que gesticula o tempo todo e emenda um assunto no outro sem necessariamente concluir o que já estava dizendo, Carlos Lombardi demonstra, nos primeiros cinco minutos de conversa, ter o raciocínio rápido que imprime nos diálogos de suas novelas. Autor de tramas marcantes para o horário das 19h da Globo — uma lista que inclui “Bebê a bordo” (1988), “Quatro por quatro” (1994) e “Uga uga” (2000) —, ele mal se acomoda na cadeira de uma das salas de reuniões do RecNov, o complexo de estúdios da Record, e logo pergunta ao repórter:— O que você vai querer saber de mim?
    Assunto não falta. Depois de 31 anos na antiga emissora, ele prepara agora “Pecado mortal” (título provisório) para a Record. Com direção-geral de Alexandre Avancini (envolvido no momento com a série “José do Egito”) e estreia prevista para agosto, a novela começa a ser gravada em maio, no Rio de Janeiro. Ocupará a faixa das 22h no lugar do remake de “Dona Xepa”, folhetim com duração mais curta e que sucederá a “Balacobaco”.
    — Eu gostei da proposta de fazer uma novela num outro horário. Vou mudar um pouco o registro, mas a história ainda terá humor — adianta o autor, ao listar as motivações que o fizeram assinar por cinco anos com a emissora.
    Sem emplacar uma novela na Globo desde “Pé na jaca” (2006/2007), Lombardi, cuja produção mais recente como autor principal no canal foi o seriado “Guerra e Paz” (2008), admite que o tempo sem trabalhar também o impulsionou a recomeçar:
    — Sou muito pé no chão. Eu mudei com um projeto em mente. Eu já estava há muito tempo fora do ar.
    O autor, que assumiu “Caminhos das ´Índias” (2009) quando Gloria Perez precisou passar por uma cirurgia às pressas, e ainda escreveu um episódio de “A vida alheia” (2010), série de Miguel Falabella, não sabe explicar a razão de não ter mais emplacado seus próprios projetos nos últimos anos.
    — Se soubesse direito o motivo, eu falaria. Corri atrás e fiz tudo o que poderia ter feito — observa ele, que assinou com a Record em setembro do ano passado.
    Se há rancor, ele não demonstra. E até brinca ao falar do período sem escrever:
    — A cabeça ficou bem. A única coisa que mudou foi a minha barriga. Trabalhar, no meu caso, emagrece. O meu metabolismo fica acelerado.
    O trabalho irá pautar os próximos meses deste paulistano de 54 anos, formado em Rádio e Televisão pela Universidade de São Paulo (USP). Ambientada ano de 1977, “Pecado mortal” terá 47 personagens fixos, dez deles com peso de protagonistas, conta Lombardi. Seus mocinhos serão imperfeitos. O que ele credita à análise que faz há anos.
    — O meu olhar é sempre psicológico e sou Freudiano. Quero fazer uma novela clara, mas não simplória. Sou muito pretensioso para isso. Na minha casa eu sempre digo que a maior verba é para terapia. Todos nós fazemos: eu, minha mulher e os dois filhos (Renato, de 15 anos, e Ricardo, de 13).
    Casado com a publicitária Cris Maradei há 23 anos, o autor conta que ele e a mulher são muito distraídos, e que o fato de terem tido dois filhos com nomes começados pela letra R (“parece dupla sertaneja”, brinca) foi coincidência. O casal queria Ricardo por considerar que o nome “não passa em branco”. E explica:
    — Cris já tinha perdido três crianças antes deles nascerem. Foi um perrengue. Sua ovulação foi induzida e a gente tinha hora marcada para transar. Ela ficou de cama nas duas gestações. Só levantava para ir ao banheiro.
    Da mesma maneira como muda de assunto para falar da família, Lombardi volta a comentar a trama de “Pecado mortal” como se tudo estivesse interligado. E avisa que os descamisados, tipos frequentes em seus folhetins anteriores, também estarão presentes.
    — Agora o horário irá permitir, e teremos as descamisadas. À noite elas podem tirar a blusa. Botei a mulher do diretor (Nanda Ziegler) para ser stripper para as cenas saírem com todo o capricho — brinca.
    A trama terá uma boate e um núcleo de strippers, como a personagem de Nanda. A principal delas, feita por Carla Cabral (que costumava assinar como Carla Regina), será uma enfermeira, ex-prostituta, que ganha a vida tirando a roupa na noite:
    — Ela é uma mocinha romântica com postura. Tem 35 anos e sabe que a vida de stripper não dura para sempre.
    Entre os personagens centrais de “Pecado mortal” estão ainda Patrícia e Carlão. Ela, uma promotora linha dura. Ele, um hippie tranquilão. Casados, têm dois filhos e são pessoas opostas. O ator Fernando Pavão deve ficar com o papel masculino.
    — Em “Pé na jaca”, Pavão fazia uma participação, mas cortamos porque era muito ruim. Quando o vi em “Poder paralelo” (2009), pensei: “Nossa, como ele cresceu” — admite.
    O folhetim fala da ascensão do tráfico de drogas no Rio e do declínio do jogo do bicho no fim da década de 1970. Outro núcleo importante será uma família de bicheiros, dona de uma escola de samba no subúrbio. Dois primos sem nenhum caráter, vindos do interior (feitos por Cláudio Heinrich e Iran Malfitano), e o detetive vilão Picasso (papel de Vitor Hugo), também são personagens de peso. Lombardi diz ter sinal verde da emissora para falar de drogas e contravenção:
    — Os personagens irão consumir cocaína, mas não sei como isso será mostrado. Não sou eu que determino se terá gente cheirando em cena. Ainda vou negociar com a casa a abordagem: se será algo numa linha mais HBO ou CBS (canal aberto da TV americana, mais conservador). Mas esse não é um problema da Record e, sim, da TV aberta. Eu gosto da HBO. Lá, pó e pó.
    A novela, frisa, não é sobre a droga, mas sobre poder. Lombardi, que estreou como roteirista aos 19 anos escrevendo programas para o Telecurso Segundo Grau, reclama que a classificação indicativa na TV não deixa de ser uma espécie de censura hoje em dia.
    — Na Tupi (onde trabalhou como colaborador de outros autores), os capítulos iam para a censura depois de já terem sido exibidos. Aí fui para a Globo e enfrentei isso. Na minha estreia como autor principal (em “Vereda tropical”, de 1984) tive que negociar com a Censura Federal. Em “Bebê a bordo”, lembro de ter ido até Brasília para discutir os peitos da Carla Marins — debocha.
    Mas o autor revela que houve um período em que escrevia guiado apenas pelo seu bom senso, nos idos dos anos 1990:
    — Recentemente estava revendo “Quatro por quatro” numa reprise do Canal Viva e foi minha novela mais desbocada. Naquela época podia tudo. Mas, de 2002 para cá, vivemos esse drama da classificação indicativa. A Gabriela de 1975 foi mais ousada que essa de agora.
    Ativo no Twitter — lá, adianta a escalação do seu elenco e responde às perguntas dos internautas —, Lombardi tem um perfil no Facebook, mas não é assíduo na rede.
    — Eu não gosto muito de amigo virtual, prefiro o que divide macarrão —, diz o morador do Jardim Paulista e frequentador de restaurantes italianos de São Paulo.
    Em “Pecado mortal”, ele terá apenas dois colaboradores, “para a trama não ficar impessoal”. A novela trará ainda Jussara Freire como a grande vilã, Betty Lago e Mel Lisboa. Os nomes de Bianca Byington e Juliana Didone, que estava na Globo, foram anunciados no elenco na semana passada.
    — Se eu não infartar no meio do caminho, ainda faço pelo menos mais uma novela na Record — avisa.
    De acordo com o site http://oglobo.globo.com
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